Desporto e Doença celíaca

A importância da nutrição na otimização da performance e saúde do atleta é cada vez mais reconhecida (1). A avaliação das necessidades energéticas diárias (NED), níveis de micronutrientes, hidratação e estado saúde em geral devem ser avaliados por um profissional sempre que a exigência do exercício ultrapasse um carater lúdico.

As NED do atleta dependem de fatores individuaís, tais como, idade, sexo e composição corporal e outros como, a modalidade praticada, frequência e duração dos treinos (2). Embora se devam seguir os princípios básicos de uma alimentação saudável, algumas estratégias nutricionais individuais e personalizadas têem-se revelado úteis na obtenção de melhores resultados.

Os hidratos de carbono (HC) são entre os macronutrientes, aqueles de que mais se fala na área desportiva, ingestões de 5-8g/kg/dia são recomendadas por vários autores. No pré-treino ou pré-competição alimentos como a banana ou a batata-doce, tem a finalidade de manter níveis adequados de glucose (açucar) no sangue para os músculos em atividade, melhorando o desempenho físico (3).

Dependendo da duração da modalidade, no intervalo dos jogos, ou durante as provas onde a ingestão é possível, o consumo de uma bebida energética rica em HC e eletrólitos é recomendada, sendo que num exercicio superior a 2,5h é mesmo essencial (4) de forma a atrasar o aparecimento da fadiga e fornecer a energia necessária para os minutos finais.

No pós-treino, a ingestão de HC imediatamente após o exercicio permite uma maior ressíntese de glicogénio muscular.

Nesta fase os HC ingeridos devem ser de elevado índice glicémico e de preferência acompanhados de proteína, como o leite magro com chocolate ou o iogurte, o que parece também melhorar a ressíntese de glicogénio, fornecendo aminoácidos para a reposição muscular.

A ingestão proteica é fundamental para optimizar muitas das adaptações que acontecem no músculo. Recomendações de ingestão entre 0,8-1,8g/kg/dia são encontradas na literatura, dependendo da modalidade praticada. No pós-exercício junto com HC, como referido, mas também antes e durante o exercício aumenta a disponibilidade e transporte de aminoácidos para o músculo favorecendo a síntese proteíca.

Relativamente ao consumo de gordura, as recomendações apontam para a energia restante após a atribuição das quantidades de HC e proteínas. Apesar da importância dos ácidos gordos essenciais para as membranas celulares, a produção hormonal e o transporte de vitaminas lipossolúveis (A, D, K e E), refeições com elevado teor de gordura não devem ser ingeridas no pré-treino ou pré-competição, pois podem causar problemas gastrointestinais. Não esquecendo que uma ingestão elevada de gorduras saturadas e gorduras trans promove a inflamação (3), o que se torna extremamente desfavorável na recuperação de lesões.

A hidratação tem sido dos fatores mais estudados na área desportiva. A elevação da temperatura corporal acontece como resposta às exigências do exercício, ou outros fatores externos, como calor ou humidade ocorrendo a sudação de modo a promover a perda de calor por evaporação(3).

As diferenças indivíduais nas taxas de transpiração e concentrações em electrólitos no suor (2)(3), determinam os valores de ingestão de líquidos. Assim, a avaliação da hidratação, à semelhança da componente nutricional deve acontecer durante toda a fase de treino e não somente nos dias da competição. Tendo em conta que no atleta hipohidratado o desempenho fisico poderá ser afetado e a fadiga chegar mais cedo.

Porque o exercicio intenso leva inevitavelmente a um acréscimo na produção de espécies reativas de oxigénio, a ingestão de alimentos ricos em antioxidantes e vitaminas, é essencial para auxiliar os sistemas de defesa endogenos na neutralização destes compostos.

Nesta vertente, as vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina E, vitamina D e os minerais ferro e cálcio são os nutrientes de maior destaque para os atletas (3).

Para o atleta Celíaco, as recomendações são iguais aos demais atletas, salientando somente os cuidados já habituais relativamente à dieta isenta de glúten.

Adicionalmente, o risco de défices em micronutrientes poderá ser acrescido, nomeadamente se a mucosa intestinal não estiver ainda recuperada (recém-diagnóstico, não cumprimento da dieta ou outro fator individual). Nestes casos, a suplementação dos nutrientes em défice (desde que com acompanhamento personalizado) poderá ser uma opção para repôr de forma mais célere os níveis necessários ao bom funcionamento do organismo e maximização da performance desportiva.

De salientar que, de forma geral, o atleta celíaco não apresenta qualquer limitação no desempenho comparativamente ao atleta não celíaco.

Patrícia Soares – Nutricionista

  1. Beck K, Thomson JS, Swift RJ, von Hurst PR. Role of nutrition in performance enhancement and postexercise recovery. Open Access J Sport Med [Internet]. 2015 Aug [cited 2015 Aug 12];6:259.
  1. Mielgo-Ayuso J, Maroto-Sánchez B, Luzardo-Socorro R, Palacios G, Palacios Gil-Antuñano N, González-Gross M. Evaluation of nutritional status and energy expenditure in athletes. Nutr Hosp [Internet]. 2015 Jan [cited 2015 Oct 14];31 Suppl 3:227–36.
  1. Mahan LK, Escott-Stump S, Raymond JL. Krause´s Food & the Nutrition Care Process. 13th ed. Elsevier; 2012.
  1. Jeukendrup A. A Step Towards Personalized Sports Nutrition: Carbohydrate Intake During Exercise. Sport Med [Internet]. 2014 May 3 [cited 2015 Oct 5];44(S1):25–33.